segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

CARNAVAL DA SAUDADE

Foto meramente ilustrativa
      
    Lembrar os velhos tempos nunca é tarde demais. Às vezes machuca o âmago, por outro lado pode nos remeter à épocas indescritíveis, que infelizmente jamais reviveremos.
    O período eram os anos 50 e eu ainda uma feliz criança que possuía, como qualquer outra, seu grupo de amiguinhos. A Quadra Momesca era para nós um momento mágico para exultarmos de alegria. Em casa, nossa mãe com todas as dificuldades vigentes, conseguia nos preparar (eu e meu irmão, um pouco mais velho) para participarmos das inesquecíveis festas infantis no lendário Clube Thalia. Quantas vezes contamos as horas nas tardes de sábado, para ouvir o locutor anunciar e convidar a gurizada a comparecer àquelas mini-tertúlias dançantes, ao som das músicas tipicas da época e que começavam invariavelmente às 15 horas indo até às 18. Ao chegarmos ao grande salão do clube, já encontrávamos várias outras crianças com ou sem fantasias, porém refletindo a alegria incontida em seus semblantes que mal cabia naqueles pequenos corações, com a certeza única que teriam momentos de deslumbre e entretenimento por algumas horas. Quantos coleguinhas conquistamos nos vaivéns do salão, entre um turbilhão de sorrisos sinceros, gritos de euforia, entre muitos confetes e serpentinas multicores. Pensar que aquilo tudo existia por um esforço incomum de diretorias que por ali passaram, onde o discotecário que ainda não tinha o pomposo nome de DJ, conseguia "apimentar" o ambiente com os frevos, marchinhas frenéticas e grandes sambas onde a petizada se esbaldava nas "cobrinhas" e rodas, a bem ziguezaguear e pular aproveitando os folguedos de Momo -o que não deixava naturalmente ninguém ficar parado. E lá estávamos nós contagiados pelo esfuziante ritmo pernambucano (frevo), as hilariantes e caricatas marchinhas cariocas, onde as letras nos faziam cantar e vibrar, como: "Olha a Cabeleira do Zezé", "Vai, com Jeito Vai", "As Águas Vão Rolar", "Marinheiro Pega o Leme","Garota Gostosura", "Me Dá um Dinheiro Aí", "Tem Nego Bebo Aí", "Máscara Negra" -dentre inúmeras outras, na voz de renomados intérpretes como por exemplo a grande Emilinha Borba. 
   A lembrança por vezes nos maltrata quando olhamos para trás e nos damos conta de que tudo passou, como uma longa "fileira indiana" de petizes, a saracotear num imaginário salão de luzes sob penumbra, refletida pelo longo e distante tempo. As festas infantis de outrora, as músicas genuínas da quadra momesca, e os inúmeros coleguinhas que conquistamos, desapareceram também, desde o dia em que o relógio marcava 18 horas de uma tarde qualquer, em um sábado qualquer de Carnaval, tudo como num passe de mágica. 
    Mesmo assim, carregando a saudade pelo braço como única companheira e com o coração apertado, conseguimos ainda ouvir como fundo musical dessa história, este samba, que se molda muito bem ao tema que ora expusemos:
                                 
                                        "Quem parte leva, saudades de alguém
                                         Que fica, chorando de dor                                                                                                       Por isso eu não posso ficar 
                                         Eu vou partir meu grande amor
                                         Ai,ai,ai,ai tá chegando a hora
                                         O dia já vem raiando meu bem
                                         E eu tenho que ir me embora..." 
                                                   

Nenhum comentário:

Postar um comentário