quinta-feira, 29 de junho de 2017

CAMISA 12


       Em nossa doce meninice, nos acostumamos a frequentar o campo do 
  Atlético Clube Izabelense, principalmente nas tardes domingueiras, era eu, meu irmão e mais dois ou três colegas. Na época, um campinho acanhado e todo aberto que demandava para a então Av. Augusto Olímpio (hoje a Pedro Constantino) que só ia até a frente da área esportiva. Os atletas do Vermelhão da Estrada, que o defenderam nos anos 50, todos também eram acostumados com a figura do velho Paraíba, um senhor àquelas alturas com seus 60 anos e que passou a ser um dos torcedores mais assíduos e aficionados naqueles áureos tempos. Era portanto um ser humano conhecidíssima naquela pequena Sta. Izabel de outrora, como também um frequentador de carteirinha das biroscas  no interior do Mercado Municipal, porém por volta das 15 h pontualmente das domingueiras, ele dava um tempo à manguaça e lá ia em direção ao estadinho para assistir e torcer pelo seu valoroso esquadrão Alvirrubro. Ao longe já se divulgava sua inconfundível figura, pelo chapelão de palha, barba e cabelos longos, cigarro meio caído no canto da boca, vestes de uma pessoa simples, com a calça arregaçada nas canelas e um inseparável tamancão. Não raras vezes se postava na direção da linha divisória do gramado e encostava-se na cerca de arame que circundava o campo de jogo. Ali esperava a entrada da equipe principal do Vermelhão entrar, e começava a anunciar a sua presença com o bordão: "Tá na hora da foice!" Daí em diante ele incorporava a própria torcida, e sem parar gritava: " Olha a foice!", "Raspa pru (sic) baixo !" e ia a cada jogada e a cada gol, incentivando os demais torcedores a motivar os atletas à vitória. Ao final dos jogos, principalmente nos triunfos, adentrava o gramado para cumprimentar os heróis, estendendo a mão a cada um dos outros guerreiros, que suaram e satisfizeram àquela admirável torcida, naquele momento representada por um aguerrido e aficionado ancião. A pequena rua frontal ao estadinho de repente parecia uma enorme procissão, todos regressavam aos lares, e no meio caminhava o velho Paraíba, mais sereno, comentava com um ou outro aquele lance perfeito, ou o gol que empolgou a todos.
     Era sempre assim: ele ia lá, dava o seu recado, ajudava a empurrar o time à vitória, para no outro domingo repetir tudo de novo, na mesma hora e com os mesmos bordões, como se lhe fosse um ritual sagrado, cujo templo era o estadinho do Izabelense.

    PS: Como singela homenagem, o inclui na história dos "92 Anos" do clube, bem como, outros igualmente aficionados simpatizantes, suas dedicações e zelo, merecem nosso apreço, pois são algo indescritíveis e nascem realmente de corações verdadeiramente Alvirrubros. Infelizmente, algo difícil de se ver nos dias de hoje.     

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