sábado, 9 de setembro de 2017

A ESTAÇÃO



    Por volta de 1950 eu estava com meus 6 anos de idade e já me dava conta daquele imenso prédio, cuja frente media uns 50 m por uns 8 de fundos, tendo uma extensa calçada frontal com cerca de 1m de altura e rampas laterais. Com a convivência comecei a perceber que ali se tratava de um local de referência diária, para onde acorriam inúmeras pessoas cotidianamente, naquela minúscula Sta. Izabel de outrora, que possuía umas 1500 pessoas aproximadamente em suas pouco mais de 10 ruas de chão batido. O vistoso prédio, tratava-se da nova Estação Ferroviária que à partir das 5 h da manhã já era tomada por um grande número de pessoas, entre os quais viajantes, funcionários da companhia, vendedores ambulantes e os chamados "carreteiros", que eram aqueles que prestavam serviços carregando malas e pacotes em carrinhos de mão. Muito tempo depois viera saber que aquela era a segunda parada ferroviária, construída por volta de 1910 em nossa cidade, de vez que, a anterior, (que ficava em frente onde é hoje o Supermercado Imperial", fora desativada em função de não possuir espaço para as manobras dos trens.Como morávamos na Barão do Rio Branco, próximo à Prefeitura, quantas vezes despertei às 5 da "matina", com a peculiar "preguiça" infantil, mas logo me alegrava por ter que viajar cedo para a capital, levado por mamãe. Após cerca de 5 minutos de caminhada, chegávamos na velha estação e minha mãe se dirigia ao guichê para comprar a passagem. Depois adentrávamos no carro de passageiros, que pernoitava em frente e nos acomodávamos na poltrona. Antes de clarear, o carro que estávamos, era acoplado ao comboio, que geralmente vinha de Bragança, passando por inúmeras outras localidades. Começava então a longa caminhada, quando se ouvia o estridente roçar das rodas nos trilhos, montanhas de fumaça e um preocupante esvoaçar de brasas sopradas para fora,  saídas da caldeira da locomotiva através das chaminés. Dentro de duas horas e meia chegávamos à parada do Entroncamento, e em seguida vislumbrávamos a Casa Natal no Bairro do Souza. Agora a velha "Maria Fumaça", parecendo exausta como um dragão de ferro, já começa a apitar com mais frequência, deixando um fumaceiro para trás, alcançava a Bandeira Branca já chegando ao Bosque Rodrigues Alves. Em cerca de 15 minutos mais, ela chegava ao seu destino final que era a grande a Estação de São Braz, onde entre apitos e baforadas de calor e muita fumaça, parecia resfolegar fortemente após tamanha maratona e ter cumprido mais uma etapa de trabalho,isto é, os 40 km que separavam Sta. Izabel da capital.
   Enquanto que aqui, a nossa estação ferroviária, continuava a sua atividade de bem servir ao viajante cotidianamente, sem distinção de credo ou classe social e sempre movimentada, especialmente aos finais de semana. 
   Dentre os inúmeros passageiros, vez por outra viajava, uma pessoa que jamais esquecerei: minha querida avó (materna) chamada Maria. Ela apesar de seus muitos anos vividos no Pará, não abandonava a sua vila de Americano por nada, desde que aqui chegou por volta dos anos vinte, com o marido João e seus 7 filhos, todos oriundos do sertão cearense. Seu apego à vila era tamanho, que sua visita à nossa casa, mais parecia "de médico" e, o máximo que fazia era pernoitar por aqui. Como conhecia chefes de estação, ela telegrafava antes de chegar em Sta. Izabel, para que fôssemos apanhá-la, pois podia se desorientar e não acertar com a nossa casa -dizendo-se "areada".
    Realmente naquela época não havia um local mais movimentado e concorrido como a nossa principal Estação Ferroviária, onde ainda nos ecoa o grito dos pequenos ambulantes  oferecendo, a broa, a pipoca, o beijo-de-moça e muitas outras guloseimas e frutas da época.
   Infelizmente tudo passou a ser apenas memória, quando a Revolução de 64 resolveu acabar com a nossa Estrada de Ferro de Bragança. Porém um dos seus marcos ainda sobrevive entre nós que é o prédio da Estação, o que nos deixa menos tristes, apesar de hoje ter outra utilidade para o município.
   Muitos passageiros por ela "passaram", ela porém consegue ainda nos inspirar e ativar a memória, a memória de uma época tão especial para quem nela viveu.  
  

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