quinta-feira, 17 de setembro de 2015

PROFISSÃO : POLÍTICO


     A vida que para muitos dessassistidos deste Brasil varonil parece dura e difícil, não foi tão assim para o cidadão José Aparício da Silva, mas conhecido como Zé Ruela, morador de uma vila dos cafundós brasileiros. 
    Cedo, abandonou a escola para pegar duro no trabalho, tendo experimentado um rosário de ocupações tais sejam : lenhador, cortador de cana, ordenhador em fazenda, tropeiro, garimpeiro, feirante, carroceiro e até tentou ser jogador de futebol. 
    Chegava 1980 e José (ou Zé Ruela), não passava de um cidadão simples, anônimo e sem prestígio, como quase todos de sua geração. A mudança em sua vida começou quando passou a assistir os primeiros comícios em sua pobre vila, onde políticos usavam e abusavam de promessas que naturalmente nunca eram cumpridas  -a começar por uma estação rodoviária e a ponte que ligava o povoado à rodovia.
Aos 18 anos completos, pensou consigo mesmo : -Vai ser a minha primeira chance de subir na vida. Montou na velha bicicleta e rumou para a cidade que distava cerca de 20 km, para exercer um dos dos seus direitos de cidadania, tirando seu título de eleitor, que conseguiu com muita dificuldade, pois demorou algumas horas para apor sua assinatura no documento, além de ter enfrentado uma imensa fila.  
     A partir desse momento, Zé Ruela, já se sentia credenciado a participar efetivamente do processo , vislumbrando uma carreira política. O primeiro passo fora reunir todos os cumunitários e colocar-se publicamente como um incansável defensor das causas locais. Em seguida não lhe faltavam eram convites para casamentos, batizados, velórios e festas diversas. Passou a realizar mutirões para limpezas nas poucas ruas do lugar, distribuía sopa e realizava lautos churrascos aos finais de semana. Já bastante conhecido e com um trabalho dedicado à comunidade, o povo reconhecidamente, resolveu apoiá-lo como o futuro representante da vila, na Câmara do Município. Como não poderia deixar de ser, o ainda Zé Ruela, no pleito seguinte foi eleito com a esmagadora votação de 300 sufrágios, isto é, pela unanimidade de seus conterrâneos.
   Passados dois anos da eleição, o prefeito municipal era acusado de corrupção. Para livrar-se da iminente perda do cargo, fez um apelo a alguns edis, entre os quais Zé Ruela, prometendo-lhes algumas vantagens, caso ficassem do seu lado. Após duas tentivas de cassação, o prefeito continuou no cargo, obviamente com o apoio dos seus apaniguados e também desonestos vereadores. Embora existissem provas insofismáveis das tramoias, onde uma delas era, a compra de tubos superfaturada, cuja "nota fiscal" tinha o endereço de uma carvoaria, pertencente ao cunhado do gestor e ainda irregularidades na aquisição da merenda escolar que era servida apenas um suco e um pão careca.
   O povo da vila somente veio a desconfiar que Zé Ruela era ativo participante das irregularidades do prefeito "lalau", quando ele chegou a pobre vila, dirigindo um luxuoso modelo Fiat, com os vidros peliculados, para que ninguém o reconhecesse. Depois que descobriu-se a sua "jogada" , perguntavam como enriqueceu tão rápido e ele se explicava : -Isto é fruto do meu honesto e competente trabalho como parlamentar, além da substancial ajuda de alguns amigos empresário ricos com os quais fiz amizades, e das inúmeras vezes que acertei na mega sena.
  Com essa lábia, Zé Ruela já chegou ao seu quinto mandato e agora repele quem o chama pela a alcunha, parecendo dizer : -Eu sou o vereador José Aparício da Silva, o lídimo representante desse balaio de imbecis. 
  Há quem afirme porém, que até hoje, 20 anos após, a ponte e a estação rodoviária jamais foram construídas, o que o ladino político sempre põe a culpa nos prefeitos que não atendem suas reivindicações.
  

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