terça-feira, 25 de outubro de 2016

R E M I N I S C Ê N C I A S

Essa foto é da primeira estação (demolida) que ficava em frente onde é hoje o Supermercado Imperial

     Parece que foi ontem porém já se foram 52 anos que deixamos de usufruir do nosso  saudoso trem. Quantas vezes saí às 5 h da manhã com mamãe, para ocuparmos uma cadeira no carro de passageiros, e que se aclopava posteriormente ao comboio que vinha geralmente de Bragança. Era uma viagem emocionante para mim aos meus 5 a 7 anos de idade. Lembro que chegávamos por volta das 7 h na Estação de São Braz e a velha locomotiva movida à lenha, fumegante, soprava estridentes apitos anunciando o fim de linha já em Belém. Mamãe me colocava ao colo para passar nas "borboletas", que registravam centenas de passageiros das mais variadas e distantes localidades da Zona Bragantina. Nosso retorno geralmente era às 14 h, quando novamente embarcávamos no velho trem e por vezes bem acomodados nos carros chamados de "primeira classe". A viagem não era tão confortável em função das faíscas desprendidas das chaminés das "Marias-Fumaça"  (cognome dado às antigas locomotivas com tração à vapor). Já próximo dos anos 60, as viagens passaram a ser um verdadeiro lazer e tranquilidade, com a chegada de modernas máquinas à óleo diesel, que inclusive reduziam o percurso Sta. Izabel-Belém a cerca de uma hora. Por volta das 4 h da tarde chegávamos à doce terrinha e o primeiro sinal era a passagem em frente ao velho Antonio Lemos, com as alunas a brincar no grande jardim ou nas nas sacadas dos andares mais altos que alegremente acenavam para o grande comboio e aos passageiros que retribuíam aquele cordial  gesto. Já no coração da pequena cidade, novos e longos apitos anunciando a chegada de mais uma estação, no roteiro de muitas outras que o velho trem teria que percorrer. Ainda hoje me emociono quando lembro do desembarque na estação, naquelas lindas tardes izabelenses, que tivemos o privilégio de vivenciar. Era gente conferindo nas janelas dos carros, para ver se o parente o amigo ou conhecido chegava naquele horário. Abriam-se as portas e já na plataforma, os abraços de boas vindas de alguns que apenas foram alí na capital, ou a outros que a quantas semanas, meses, ou mesmo anos não se encontravam, --o trem também tinha essa magia de matar e deixar saudades, trazendo e levando seres humanos no seu incansável cotidiano daquela época. Quantas vezes assistimos a carruagem do Antonio Lemos, sob o comando do cocheiro Sr. Cipriano, passar levando a Superiora ou outra Irmã, logo após à chegada do trem das seis dirigindo-se àquele Colégio. Os carregadores já pegavam as malas e  embrulhos e saiam para entregá-los nas casas próximas, pois a cidade ainda pequenina tudo parecia estar ao nosso redor, quase ao alcance das mãos. Os meninos vendedores era um show à parte, apareciam com os mais variados tipos de iguarias e doces onde se via: a broa, a pipoca, o beijo-de-moça, a tapioca, o amendoim, a paçoca de gergelim, o pirulito, a cocada, a canjica, a pamonha, a castanha de caju, algumas frutas -enfim tudo o que se imaginasse para bem servir o viajante eles traziam. O grito dos garotos oferecendo suas vendas eram tão altos que apenas sumiam quando soava o estridente apito da velha "maria-fumaça" ou agora, a moderna buzina das novas locomotivas a diesel, anunciando a nova partida, além municípios, até chegar na velha Bragança. Posso afirmar com muita tristeza, que ainda hoje quando passo em frente à velha estação ferroviária àquela hora, por alguns segundos me passa na memória uma verdadeira reprise, daquilo que vivi a mais de meio século. Jamais poderei entender como conseguiram acabar com o nosso trem, isto é, com a nossa Estrada de Ferro de Bragança. 
   A única explicação que vem à mente é que, às vezes, o homem não tem limites e nem mede consequências.    

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