terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

MEMÓRIAS DE UMA PRAÇA

Praça da Bandeira dos anos 50

      Presumo que por pequena que seja a cidade, ela possui uma praça. Nós por exemplo tivemos a nossa, que até pelos anos 50, ela com seu bem cuidado jardim ornamentado de belas flores, pequenas árvores de sombra, ao centro o obelisco com um mastro, bancos confortáveis em madeira, coreto, passeios laterais e avenidas centrais, além dos postes em ferro com luminárias decorativas, tudo contido em uma área de 50 m por 50 m, aproximadamente. Estava situada bem na confluência das antigas ruas Augusto Olímpio e Cearense, em frente ao antigo Mercadão. Na esquina o comércio de meu pai denominado de Casa Oliveira (que abrigava mercearia, loja de fazenda e bar), seguido da farmácia do Sr. Bastos Lima, uma Cooperativa e outra loja da família Tuma, completavam as edificações mais próximas. Denominava-se como a atual de, Praça da Bandeira e todas as manhãs, principalmente domingueiras, recebia pessoas idosas , jovens e crianças a brincar alegremente numa Sta. Izabel ainda tranquila, ordeira, sem atropelos ou violência -era portanto, uma cidade que há pouco ganhara sua autonomia. Na Semana da Pátria nossa Praça tornava-se galante e impoluta ao acolher as autoridades locais que após o hasteamento da bandeira, aos acordes do Hino Nacional, vinha o desfile do Sílvio Nascimento, do Colégio Antônio Lemos e mais uma ou duas escolas, quando sentia-se orgulhosa em ser mais uma vez, palco de tantos aplausos oriundos do povo , naquela data cívica, que completava-se com a animação exclusiva e primordial da Banda do Mestre Darlindo Correa. Ali assistimos por longos anos, tantos e quantos discursos de campanhas políticas, com naturalmente, o exagerado tempero das irremediáveis promessas não cumpridas. Nas tardes primaveris também servia de ponto aconchegante aos moradores das adjacências, que iam para ali prosear ou degustar o irresistível tacacá de D. Nezinha, em frente às ruínas da velha estação ferroviária que demorava-se bem ao lado direito. Á noite este logradouro emprestava-se aos casais enamorados da época, que ali permaneciam invariavelmente até o incômodo apito da usina elétrica (que ficava à sua esquerda) a avisá-los, que em instantes se apagariam as luzes, isto, às 22 horas impreterivelmente. Ainda aos finais de semanas, nossa praça era submetida a um forçado serão, em virtude das românticas serenatas na voz de alguns inspirados cantores, sempre acompanhados de um respeitabilíssimo pinho, -ou ainda, o insistente incômodo de um ou outro bebum desgarrado, que fazia de leito seus bancos , até que os primeiros raios solares lhes despertassem. No Natal e ao romper do ano, ela se juntava ao velho Mercadão e abrilhantavam aquelas monumentais e memoráveis noites dos anos 50.
    Agora que se passaram seis décadas, e ao ver sua imagem amarelada pelo incisivo tempo, me refletiu um filme gravado apenas na memória, permitindo-me identificar a praça dos meus 12 anos, o que me possibilitou descrevê-la minuciosamente, como se a estivesse vendo. Porém ao olhar a realidade do local, ela já não existe, deu espaço ao progresso, abrigando ali um Ponto de Táxi, que atende a uma cidade, que antes percorria-se com alguns passos. Mesmo assim lá está ela, embora do outro lado, com outras características, mas seu nome não fora (e nem poderia) ser mudado. Ela será sempre a nossa inesquecível Praça da Bandeira, de ontem e de hoje.             

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