sexta-feira, 28 de abril de 2017

O VELHO CIRCO


     Creio que pelo menos um em cada três brasileiros já assistiu a um espetáculo de circo. Tenho certeza que estou nesse rol da pequena população izabelense, por volta dos anos 50. Nossa turma que normalmente jogava peladas nos quintais ou terrenos livres, éramos em torno de oito e como a cidade tinha umas dez ruas, logo se sabia dos acontecimentos recentes ou corriqueiros. De vez em quando, alguém descobria algo e vez por outra, era um circo que estava na cidade e já armava suas grandes lonas, ali onde está hoje a Praça do Expedicionário. Aí a alegria era incontida e para lá corríamos, verificando tudo de perto, com curiosidade. Eram companhias de pequeno e médio porte, uns mais luxuosos e outros nem tanto, sendo estes últimos alcunhados de "tomara que chova", pois não possuíam cobertura. Pela parte da tarde, íamos logo saber a que horas o palhaço iria para as ruas anunciando o espetáculo e a disputa era grande por uma vaga, para acompanharmos, gritando "Hoje tem espetáculo?", que valia um ingresso no famigerado poleiro (arquibancada interna em madeira). Outros meninos que não eram selecionados para a propaganda "oficial", tentavam burlar o vigilante, passando por baixo da lona e não raras vezes eram pilhados. Nossa turma ficava geralmente agrupada em um canto esperando o início do espetáculo, às 20 horas pontualmente. Como as opções de divertimentos em nossa cidade eram bem raras, as famílias sempre frequentavam e dependendo da importância do cartaz, sempre lotavam até as cadeiras cativas. Eram momentos inimagináveis que passávamos, com as estripulias dos palhaços, o suspense dos trapezistas e malabaristas, os truques dos mágicos, as lindas bailarinas, as peças teatrais, onde alguns apresentavam até macacos chimpanzés -que completavam as emocionantes noitadas circenses de nossa época. 
     Talvez um dos circos que mais marcou a população, do qual não lembro o nome, porém tinha um palhaço que era realmente impagável, assim como era também um excelente ator, chamado Zé Gaiola. Lembro-me em uma certa despedida de temporada deste circo, todo o elenco resolveu com surpresa homenagear nossa cidade, cantando no fim do espetáculo uma canção que começava assim:

                                  "Santa Izabel és uma Princesa
                                   Que tens beleza natural
                                   És bela és hospitaleira
                                   E a ti não tem nada igual..."

      Lembro-me também que era uma noite de domingo, e no dia seguinte, ouvia-se os comentários, relembrando já com saudades, de mais um circo que partia.E que como muitos outros, ia cumprir sua história de eterno viajante, por esse Brasil afora, caminhando e alegrando jovens como na minha infância, aos adultos e aos mais idosos. Afinal, o circo é alegria, ele nasceu para todas as idades.   
           
           

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